Hereafter "Além da Vida" é um filme norte-americano de drama dirigido e co-produzido por Clint Eastwood a partir de um roteiro de Peter Morgan, com produção executiva de Steven Spielberg. Estão no elenco Matt Damon como um médium vidente em conflito, Cécile de France e Lyndsey Marshal. O filme foi lançado em 2010.
Basicamente o ciclo da vida é: Nascer, Crescer, Reproduzir envelhecer e Morrer. E depois? Uma das perguntas que mais afligem a humanidade é o que acontece após a morte. É um terreno fértil a ser explorado pela religião, muitas vezes usadas para atrair fiéis. A ciência, por sua vez, nada explica. E com tanta indefinição alimenta ainda mais a angústia gerada naqueles que não conseguem aceitar que a vida, simplesmente, termina junto com o corpo físico.
A trama de Além da Vida aborda três histórias distintas, passadas em São Francisco, Londres e Paris. As conexões entre os três personagens demoram, mas são tão inevitáveis quanto a morte que os cerca de maneiras diferentes. Mais importante que isso, não soam forçadas em momento algum. Hereafter concilia uma trama narrativa habilmente elaborada com um tema sensível, a vida para além da morte. Três pessoas, um operário americano, George (Matt Damon), uma jornalista francesa, Marie Lelay (Cécile de France), e Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), um garoto três pessoas que tiveram experiências além da morte que vão unir o seu destino.
O filme começa de forma surpreendente. O ano é 2004, o local uma das ilhas afetadas pela tsunami que varreu o oceano Índico. O clima de espera angustiante pelas gigantescas ondas que tomarão conta de tudo contrasta com o visto quando tudo, enfim, acontece. A destruição avassaladora lembra os filmes catástrofes, com seu apuro nos efeitos especiais e o impressionante gigantismo. Mas é também uma sequência fria, incômoda. É esta reação que justifica seu uso por Eastwood, um diretor que jamais pautou suas histórias em elaborados efeitos especiais. As ondas têm função na trama, pois arrancam dos personagens a paixão pela vida. É o que quase acontece com a jornalista francesa Marie LeLay (Cécile De France), tragada pela enxurrada. Ela chega a perder os sinais vitais, vê vultos do lado de lá, mas volta. E nada mais será como antes.
Em outro continente, há os jovens Marcus e Jason (Frankie e George McLaren). Irmãos gêmeos, extremamente unidos, eles lutam e torcem pela recuperação da mãe. Ter uma família normal é o sonho da dupla. Quando a luz parece surgir no fim do túnel, tudo muda. Jason morre e Marcus não consegue aceitar a perda. Passa a perambular em busca de apoio, buscando um meio de manter contato com o irmão recém-falecido. Toda possibilidade de charlatanismo é então apresentada, só que mais uma vez de forma fria. Clint Eastwood não está interessado em julgá-los, apenas em dizer que eles existem.
Na América, há o outro lado da história. George Lonegan (Matt Damon) tem, desde jovem, o dom de se comunicar com os mortos. O que para muitos é uma dádiva, para ele é uma maldição. É o outro lado da questão agora apresentado, o daquele que realmente existe e sofre por isso. Afinal de contas, o dom de George impede que tenha uma vida normal. "Uma vida centrada na morte não é vida", ele diz. Sua tentativa de aproximação com Melanie (Bryce Dallas Howard, radiante) é a grande mostra disto.
Três histórias, envolvendo personagens que, por motivos distintos, lidam com a morte em seu cotidiano. Ao contrário do que possa parecer, Clint Eastwood não está interessado em contar o que existe além da vida. Seu foco é saber o que acontece do lado de cá, naqueles que permanecem vivos e precisam lidar com o tema. Em cada personagem principal, o interesse maior é na melancolia e insatisfação presentes, seja pela perda de um ente querido, por uma descoberta mal explicada ou por um possível carma. É claro que esta opção traz consequências para o filme, como um todo. A principal delas é o clima de frieza, necessário já que seus principais personagens estão, de certa forma, mortos em vida. Cada personagem evolui de forma consistente e complexa ao longo da narrativa.
Além da Vida é um filme interessante exatamente pela abordagem proposta por Clint Eastwood. Seria fácil tentar responder os grandes questionamentos, de forma a iludir o espectador com teorias. Trata-se de um bom filme sobre a relação do ser humano com a morte, com momentos que levam à reflexão. Clint Eastwood surpreendeu mais uma vez com um filme muito diferente de qualquer dos anteriores e bastante provocador das consciências individuais.
